A Vila de Manhiça ocupa um lugar especial no meu peito, pela sua fartura e beleza que a natureza agracia-me o olhar, mas, além de terras fertéis e um vasto arvoredo, a abundância da diversidade viva e suas peripécias, tortura-me a saudade.
Meu coração estanca, e o corpo retesa-se, toda vez que penso em lá estar, sugar o ar puro filtrado pela mãe natureza, beber ”XICANHU”, uma das mais excitantes paixões que, humildemente, vos revelo. Sou filho de camponeses e, o campo e eu, somos parentes de primeiro grau.
Gilberto Massango, é um homem também do campo, exímio fabricante e bebedor incorrigível de aguardente de melaço, mas como outros tantos, concebe a mulher do outro como a mais saborosa, e foi desta vez que Massango, conheceu o sofrimento de forma tragicamente cómica.
Massango, de olhar penetrante, seu corpo, tem o sabor da velhice, mas nem por isso lhe páras, a vida no campo tem suas vantagens; as casas são precárias, mas a mata, abraça sua gente com um manto mágico e assusta as trevas. Um homem como Massango, não existe igual, vos digo, o velhote anda de namoriscos, com uma viúva do bairro adjacente a dele, faz viagens diárias para TIMAKENE, na companhia dos seus amigos de estimação, O JUANKIN E O FAFETINE.
A natureza me encanta, juro, o sofrimento do Massango, aconteceu nas vésperas de colheita da primavera, as florestas de GULANE, tem um Fevereiro abençoado de chuvas milagrosas que deixam as culturas de minha mãe sorridentes, e reveste-as de um verde carregado, um autêntico jardim alimentar sem igual, humilha qualuer Jardineiro da Cidade.
Depois das chuvas, começa a recolha do CANHÚ, é tradição de GULANE e todos devem participar, durante três dias, adultos e crianças, todos devem colectar o CANHÚ, a terra não pode ser tocada, aproxima-se a época de colheita e deve ser celebrada. Enquanto isso, as machambas seduzem as camponesas a testar a maçaroca, descascam-na aqui e acolá e fazem planos de tirar para assar e ou fazer pamonhas, para compensar a saudade duma xima quente e um guisado duma galinha cafreal que, há dois verões se recusa a procriar.
JUANKIN, MASSANGO E O FAFETINE, são paus do mesmo mestre, são bêbados reconhecidos, pelas autoridades tradicionais e políticas, são os CASANOVAS de GULANE, fazem parte de um sistema mecânico, próprio, são como parafusos, não se soltam, muitos tentaram romper a amizade e fracassaram. É como se, quanto mais se lhes tentam separar mais se apertam, mas para MAKHATE, esposa oficial do Massango, não precisou de ciência nenhuma, nem se quer uma macumba, sempre foi devota a DEUS, MAKHATE, quebrou uma amizade de cinco décadas com recurso a um sabugo de maçaroca e um fio de leite condensado.
Na tarde do domingo, Massango e seus sequazes, sairam para uma jornada de acasalamento e cheio de curtições com as suas concubinas, comportamento criticado pelos demais e familiares do trio. MAKHATE preparava pamonha quando o assobio do JUANKIN, furou violentamente as entranhas dos tímpânos da MAKHATE e balbuciou alguns insultos santos para os indesejados amigos do Massango, depois chamou o esposo e disse: _”seus amigos chegaram, veja a hora de voltar”, advertiu.
O retorno do Massango foi tardio e penoso. Depois de embebedar-se com CANHÚ E MELAÇO e voltou pela madrugada zigue-zagueando na companhia dos seus corilegionários de sempre, e ele foi largado na porta de sua casa pelo FAFETINE, depois de depositar o JUANKIN na sua cabana.
MAKHATE, encontrava-se de repouso a deleitar-se de um sonho com os anjos. Um ”N´TLHA”, solta-se no ar, MAKHATE levantou da sua esteira pronta para fazer justiça pelas próprias mãos, franqueou a porta vigorosamente, encontrou Massango estatelado no chão e rodeado de sabugos de maçaroca que usou para o preparo da pamonha, MAKHATE possuida por raiva e humilhações há muito omissos, arreiou as calças de Massango e pegou em seguida num sabugo e, em movimentos de vai-vêm, enfiou na retaguarda do seu espoço desfalecido pela bebida e, para terminar deitou um fio de leite condensado, como toque final, para dar cor e consistência à vingança.
A manhã, ia ao fim quando Massango recobrou a consciência, sua retaguarda doía para caramba e. para o seu desespero, passou o dedo para avaliar com o tacto o tamanho da dor vindo daquela zona de descarga, seu dedo do meio retornou humedecido por um líquido cremoso de cor suspeita, o ambiente começou a girar em sua volta, os objectos ficaram gigantes e pensamentos imundos assaltaram-lhe e escorregou no umbral da porta, _”fui violado”, suspirou e entrou em pranto. Chorou alto, até que MAKHATE mesmo a muitos metros de distância ouviu e veio a correr fingindo preocupações.
Massango, sofreu estupro pelas mãos da própria esposa e chora toda vez que alguém menciona o nome de um dos amigos, e repete o mesmo solilóquio, _”diga que não estou, não posso lhes pagar bebida e carne para me fazer de Puta!, sentenceia Massango de sobrolho carregado.
Escrito por: Salomão Zandamela
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