De acordo com a Confederação das Associações económicas de Moçambique (CTA), as perspectivas animadoras que o sector empresarial nacional apresentava foram contrariadas com o ambiente macroeconómico a registar uma deterioração em 1 ponto percentual, passando de 47.0% para 46%, face ao trimestre anterior.
“Em Fevereiro último lançámos a nossa segunda edição do índice de robustez empresarial, onde analisamos o desempenho da nossa economia no último trimestre de 2020 e perspectivamos o presente ano, esperançosos de uma retoma económica que virasse a desfavorável página com que terminamos 2020”, lembrou Agostinho Vuma. O Presidente da CTA falava semana finda em Maputo, na “Economic Briefing”, um evento onde abordou-se o desempenho empresarial do I trimestre de 2021 e as Perspectivas.
Segundo a CTA, diversos factores contribuíram para este quadro negativo, dentre eles, a depreciação cambial registada, com uma variação média de 74,26 Meticais por dólar americano, contra os 73,70 Meticais registados no IV trimestre de 2020. Pressão negativa semelhante exerceu a aceleração da taxa de inflação de 3,12% para a cifra de 4,98%, e o aumento das taxas de juros com a Prime Rate média de três meses de 15.77% para 16.27%.
“Com este quadro, registamos o adiamento da recuperação do desempenho resultante, também, da ocorrência da segunda vaga de infecções da COVID-19 que conduziu à indispensável adopção de novas medidas de contenção e propagação”, disse Vuma.
A agremiação do empresariado nacional avança ainda que, contribuíram, também, o seu papel negativo os ciclones Chalane e Eloise, e o intensificar dos ataques terroristas na Província de Cabo Delgado que resultaram na suspensão das operações da Total.
“Como não podia deixar de ser, face a este cenário, registou-se uma redução significativa da facturação do sector empresarial em cerca de 26%, incidindo negativamente no Índice de Robustez Empresarial que reduziu de 40% para 28%” disse a fonte.
Neste período em analise, em termos sectoriais, a hotelaria e restauração, comércio e serviços e transportes foram os que mais influenciaram esta queda, exactamente, porque as medidas implementadas no âmbito da prevenção da propagação da COVID-19 incidiram mais sobre estes sectores, de acordo com a CTA.
“Relativamente ao ambiente de negócios, subsistem algumas incertezas devido ao agravamento da situação da segurança em Cabo Delgado. Permitam que me detenha um pouco mais na análise desta situação, tendo em conta o seu impacto na economia e na vida de todos nós, o que justifica uma abordagem mais detalhada. 3 Os ataques terroristas do dia 24 de Março ao distrito de Palma agudizaram o clima de insegurança, desconfiança e incertezas no ambiente económico, tanto para os investidores estrangeiros, como nacionais”, apontou.
Entretanto, decorrente destes factores e de acordo com a avaliação feita, mais de 410 empresas foram afectadas, colocando em risco aproximadamente 56 mil postos de trabalho, directos e indirectos, devido à suspensão dos vários contratos de fornecimento de bens e serviços firmados entre a Total e as suas contratadas bem como entre estas e as suas subcontratadas. A estimativa do valor das mercadorias já adquiridas para o fornecimento ao projecto da Área 1 ascende a cerca de 28,50 milhões de USD, sendo que 12,79 milhões (correspondentes a 45%) estavam em stock, e 15.72 milhões de USD em trânsito.
“Parte considerável destas mercadorias, sendo perecível, possui um prazo de vencimento da sua validade (exemplo, refrigerantes, legumes, carnes, etc.), o que vem exacerbar as perdas decorrentes desta situação. Em suma, de acordo com a avaliação feita, o volume total de perdas registadas pelo sector empresarial estima-se em cerca de 148.11 milhões de USD”, avançou a CTA.
A organização afirma ainda que, a parte final do primeiro trimestre foi caracterizada, dentre outros aspectos, pela apreciação do Metical, em particular, face ao Rand, Dólar norte-americano e Euro. O mercado procurou respostas sobre o que teria acontecido. A avaliação feita sugere que o papel dos importadores no mercado de divisas e as intervenções do Banco de Moçambique no Mercado Cambial Interbancário teriam jogado papel central.
Entretanto, no caso dos importadores, face a um mercado de importadores muito concentrado em Moçambique, dos 6,4 mil milhões de dólares de importações registados em 2020, 46% desse volume foram feitas por, apenas, 30 grandes importadores. Esta concentração leva a que o movimento de poucos importadores possa afectar e sinalizar a taxa de câmbio.
No início de 2021, a maior parte destes importadores reduziu os seus pagamentos para o exterior, tanto devido às restrições da COVID-19, bem como a situação de Palma, aqui já referenciada. Por outro lado, durante o primeiro trimestre de 2021, o Banco de Moçambique efectuou vendas líquidas no Mercado Cambial Interbancário no valor de 165,0 milhões de dólares, contrariando o período homólogo de 2020 em que não se fez nenhuma injecção líquida e, em termos médios, superando a média trimestral de divisas registada em 2020 que se situou em 113,1 milhões.
“Portanto, fica evidente que o Banco de Moçambique tem estado muito activo no Mercado Cambial, injectando divisas, numa altura na qual a procura por importações estava arrefecida, acabando por gerar expectativas de apreciação. Se, por um lado, saudamos a implementação destas medidas, preocupa-nos que as mesmas não resultem em mudanças estruturais na economia, o que tornaria sustentável o seu resultado e nos torna receosos em relação à capacidade de suster-se o câmbio nos 5 níveis actuais através de injecções, caso esta capacidade chegue ao limite e, seguidamente, se registe uma instabilidade cambial”, disse Vuma.
Importa destacar que a proposta da CTA é que, as intervenções do Banco de Moçambique no mercado resultem em acções mais vigorosas para ajudar a manter a estabilidade cambial, evitando subidas ou descidas bruscas.
“Em termos de perspectivas, antevemos que o alívio das restrições, decretado pelo Governo, no âmbito do Estado de Calamidade Pública resulte numa ligeira recuperação dos postos de trabalho, particularmente para os sectores de turismo, subsectores de entretenimento, bem como serviços como ginásios e transportes. A nível do ambiente de negócios, esperamos que sejam introduzidos alguns instrumentos normativos, relevantes para o sector empresarial”, exortou o representante da CTA.
O empresariado espera que seja introduzido o visto electrónico que traduzir-se-ia na redução do tempo, custo e procedimento de emissão do visto. Assim como o regulamento geral do acesso à energia fora da rede, que visa impulsionar o uso de energias limpas ou amigas do ambiente e incrementar a competitividade do sector. A organização espera ainda pela revisão do Diploma Ministerial n° 18/207, de 9 de Fevereiro, relativo à Tabela de Taxas para os Postos Fronteiriços, cujo impacto será a retirada do custo inerente da taxa de fiscalização e assistência a bordo de veículos nos postos fronteiriços terrestres, no valor de 247,20 Mt para os veículos pesados, e 98,80 Mt, para os veículos ligeiros.
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