Olá minha querida, amada e lindíssima esposa – mais que rubi! Receba este girassol, que representa o teu sorriso de, logo pela manhã. Pois, só com ele o sol tem efeito na minha vida, porque tu és a reacção perfeita para radiar o meu dia!
Na cabeceira da cama encontrará uma quantia para te sustentar neste período da minha ausência… E porque a vida não tem sido fácil, lá nas terras em que vou, depositei milhões de cheques de amor na alcova do nosso unigénito…
Parto com o coração despedaçado porque não sei se mais uma oportunidade de o aconchegar nos meus braços terei, e nem sei se terei mais uma “chance” para ensiná-lo a andar de bicicleta, e antes disso, nem sei se voltarei tão rápido para oferecer-lhe o presente mais desejado por ele, no dia do seu aniversário. Querida?!
Não sei, se esta é a última vez que meu pulso ousa escrever com tinta indelével, o tamanho do meu carinho por ti e pelo nosso lindo filho, mas se assim for, quero que saiba que enquanto respirar não perderei a esperança de retornar à casa, lembrei-me daquela pregação do Pastor Ximoco, na qual, contou-nos acerca da luta dos filhos de Israel!, pois é, eles nem precisaram de lutar naquela batalha, o Senhor lutou por eles. E é nisso que tenho fé, de um dia poder regressar à nossa casa, lar em que pode até faltar açúcar por algumas horas, mas nunca falta mel, que é, a vossa presença em minha vida!
Quero que saiba que partirei para uma terra de choros aos prantos, onde até as lágrimas de quem mais quer chorar, secam de desespero; onde ser humano, ética e moralmente correcto, já não convém. Por isso, tentei exprimir todo o amor que existe em mim, deixei-o neste pedaço de papel e reguei-o em cada canto desta casa. Sei que, não será esse amor a terminar a construção do nosso lar, mas será o sustento de cada pilar que juntos levantamos, e não me esqueci de pedir a Deus para que seja O primeiro a pegar as pontas deste lar, que um dia voltarei. Prometo voltar, por ti e pelo nosso Júnior. Perdoe-me, meu amor!
Mas a caneta já não desliza neste pedaço de papel que aos poucos se molha pelas minhas lágrimas de preocupação e medo de nunca voltar á vos ver. Receba o meu beijo do tamanho do mundo, o abraço mais pesado que um carro de guerra, e ao Guambinho, um abraço apertado como se de colecte à prova de balas se tratasse e um beijo, como se beija um jasmim, delicado, como o ensinei a cuidar das coisas mais importantes da sua vida. Do seu atalaia, O marido que voltará. Mc. 11:24.
Por mais que não se diga em viva-voz, a província de Cabo Delgado, consequentemente Moçambique, está em guerra.
Os ataques na província de Cabo Delgado, duram desde Outubro de 2017. Mais de 400 pessoas morreram, dentre elas: militares, homens das FDS, civis e dezenas de milhares foram afectadas pela violência. Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado, aconteceram no dia 5 de Outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram, (DW África, 2017).
Cerca de um mês depois, a 17 de Novembro, as autoridades dão ordem de encerramento á algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado. “Cabo Delgado tem 16 distritos e a informação que nós temos é que nove desses distritos já estão afectados por esses ataques. É uma situação cuja solução não está à vista”, (Chiure em entrevista à DW África: 2020). E enquanto a solução não é encontrada, pessoas inocentes e filhos das comunidades, agora membros das forças de segurança, vão tombando para a glória do inimigo sem rosto e que se quer o nome conhecemos.
Em nome de tantos homens de garra, destemidos, que prestam socorro e dão a sua vida em defesa desta pátria amada, surgiu a carta que vos foi apresentada por mim, jovem moçambicano que se importa e compadece pelo grito ensurdecedor que do Norte vem e, ouve-se no Centro e o Sul, através de ecos, por isso, ainda não se decretou Estado de Sítio face aos confrontos armados em Cabo Delgado. Espero que o Soldado retorne ao calor da sua família e daqueles que ama!
🥰❤️
As minhas lentes agradecem.