Pedro Graça Doncar Jante
‘’A pesquisa não se realiza fora da vida social, ela não é isolada da realidade, está presente nas actividades normais do profissional das ciências humanas e deve ser usada como instrumento de enriquecimento do conhecimento’’
(Lakatos e Marconi, 2002).
Resumo
O conceito de museu está sendo discutido na actualidade. Inclusive o Comité Internacional dos Museus (ICOM) vem desenvolvendo várias actividades que visa trazer uma definição tendo em conta realidade e o contexto em que o individuo está inserido e ou país. Dentro das abordagem referentes a pesquisa na Museologia existem duas posições uma na qual olha a pesquisa em museu como informação contida ou extraída na colecção ou objecto do museu, e outros que olham pesquisa em museu como uma actividade que visa dar entrada de novas colecções ou objectos para o museu, este último posicionamento constitui o objecto de analise no presente artigo. É resultado de uma breve revisão de literatura proveniente do projecto de pesquisa (de museologia) para realização do Trabalho de Culminação de Curso (monografia), que será apresentado no Instituto Superior de Artes e Cultura, na Faculdade de Estudos da Cultura, como elemento parcial para obtenção de grau de licenciatura no curso de Licenciatura em Gestão e Estudos Culturais.
Palavras-chave: Museu, Pesquisa em Museu e Museu Nacional de Etnologia
Contextualização
Na actualidade, através dos meios de comunicação de massa e Tecnologias de Informação e Comunicação o homem dispõe de muita informação de o que se passa no mundo em todas esferas desde política, economia, saúde, desporto, arte e cultura, etc. por meio da pesquisa.
O presente artigo, tem como objectivo compreender como é desenvolvida e concebida pesquisa em museu em Moçambique concretamente no Museu Nacional de Etnologia de Nampula (MUSET). É resultado de uma breve revisão de literatura proveniente do meu projecto de pesquisa (de museologia) para realização do Trabalho de Culminação de Curso (monografia), que será apresentado no Instituto Superior de Artes e Cultura, na Faculdade de Estudos da Cultura, como elemento parcial para obtenção de grau de licenciatura no curso de Licenciatura em Gestão e Estudos Culturais.
Metodicamente, para realização do mesmo, recorremos a pesquisa bibliográfica com apoio técnico da revisão da licenciatura.
E para melhor compreensão do mesmo consideremos os seguintes conceitos:
- Museu
O conceito de museu está sendo discutido na actualidade, inclusive o Comité Internacional dos Museus (ICOM) vem desenvolvendo várias actividades que visa trazer uma definição tendo em conta realidade e o contexto em que o individuo está inserido.
Desta forma de acordo com Desvallées e Mairesse (2013) o termo “museu” tanto pode designar a instituição quanto o estabelecimento, ou o lugar geralmente concebido para realizar a selecção, o estudo e a apresentação de testemunhos materiais e imateriais do Homem e do seu meio.
O conceito de museu abandonou a ideia de simples armazém de peças e objectos para converter-se num espaço ao serviço das comunidades.
Segundo Pérez (2009) citando Monserret Iniesta (1994), afirma que,
Na actualidade o museu é cada vez mais um instrumento de interpretação das culturas e dos grupos sociais e, os museus são um instrumento de reprodução simbólica da sociedade, um gerador de imagens culturais que reflectem a dinâmica dialéctica das hegemonias. Desde este ponto de vista o museu é um instrumento de criação de um imaginário colectivo e uma fábrica de identidades.
Assim dos conceitos acima apresentados, para o presente artigo adoptamos a definição trazida por ICOM (2007) citado por Desvalles e Mairesse (2013) tendo em conta a nossa realidade, onde este aponta que museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberto ao público, que adquire, conserva, pesquisa, expõe e transmite o património material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação o e deleite.
1.2. Colecções /objectos
Segundo Burcaw (1997) citado por Desvalles e Mairesse (2013) as colecções podem, ser definidas como os objectos colectados do museu, adquiridos e preservados em razão de seu valor de exemplaridade, de referência, ou como objectos de importância estética ou educativa.
Na mesma ordem de ideias Desvalles e Mairesse (ibdem), apontam que de um modo geral uma colecção pode ser definida como um conjunto de objectos materiais ou imateriais (obras, artefactos, mantefactos, espécimes, documentos arquivísticos, testemunhos, etc.) que um indivíduo, ou um estabelecimento, se responsabilizou por reunir, classificar, seleccionar e conservar em um contexto seguro e que, com frequência, é comunicada a um público mais ou menos vasto, seja esta uma colecção pública ou privada.
De acordo com Gonçalves (2007), colecção é todo conjunto de objectos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito de actividades submetidos a uma protecção especial em um local fechado preparado para esta finalidade, e expostos ao olhar.
Desta forma tendo como base as ideias dos autores acima referidos, olhando para o contexto dos museus em moçambicanos, podemos definir colecções de uma forma geral como um conjunto de objectos materiais ou imateriais que um indivíduo, ou um estabelecimento, se responsabilizou por reunir, classificar, seleccionar e conservar em um contexto seguro e que, com frequência, é comunicada a um público mais ou menos vasto, seja esta uma colecção pública ou privada
«O que é pesquisa e o que é pesquisa em museu?»
A maior parte dos conceitos usados nas ciências sociais, são de caracter polissémico, devido ao uso em vários áreas científicas tal como acontece com o conceito de Pesquisa, que varia dependendo da área em que ela está inserida por exemplo na matemática, Sociologia, Historia, Física, Química, Semiologia, Antropologia, Filosofia, etc.o conceito de pesquisa é entedida de forma diversificada.
Em linhas gerais, de acordo com Ander-Egg (1978),
Pesquisa é um procedimento reflexivo sistemático, controlado e critico, que permite descobrir novos factos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento. A pesquisa portanto, é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para se conhecer a realidade.
Por outro lado Marconi e Lakatos (2002) referem que pesquisa é uma indagação minuciosa ou exame crítico e exaustivo na procura de factos e princípios; uma diligente busca para averiguar algo. Pesquisar não é apenas procurar a verdade, é encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos.
Segundo Gil (1999) entende que pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos.
Dos conceitos acima apontado sobre pesquisa, podemos notar um denominador em ambos que é problema e o uso do método científico. Sendo que considera-se pesquisa quando há o uso de métodos científicos para resolver um certo problema.
Na Museologia, o conceito de pesquisa traz uma nova abordagem. Para além de problema e o uso dos métodos científicos, traz um novo denominador comum que é colecções ou objectos.
Dentro destas abordagem referentes a pesquisa na Museologia existem duas posições uma na qual olha a pesquisa em museu como informação contida ou extraída na colecção ou objecto do museu, e outros que olham pesquisa em museu como uma actividade que visa dar entrada de novas colecções ou objectos para o museu, este ultimo posicionamento que constitui o nosso objecto de analise no presente artigo.
Segundo Knack (2013) refere que pesquisa museu está entre as actividades de investigação minuciosa na aquisição de seu acervo. Esse tipo de pesquisa deve orientar a entrada de outros bens para o acervo.
Segundo Chagas (1990) o objecto principal de investigação está no interior da exposição do museu e pode ser descrito como sendo a relação directa do contacto do homem com um bem cultural em um espaço delimitado.
Costa (2006) diz que entende-se por pesquisa museológica toda informação que o objecto possui de ordem socioeconómica-cultural. Todo acervo museológico deve ser pesquisado. Só assim será possível o máximo de informações sobre o objecto. Ex.: sua origem, procedência, vinculação histórica.
De acordo com Desvallées e Mairesse (2013), pesquisa em museu, são conjuntos de actividades intelectuais e de trabalhos que têm como objecto a descoberta, a invenção e o progresso de conhecimentos novos ligados às colecções das quais ele se encarrega ou às suas actividades.
Breve descrição da Pesquisa em Museu no Museu Nacional de Etnologia de Nampula
De acordo com Costa (2013) citando Costa & Gandolfo (2005), aponta que, os museus de Moçambique nasceram no contexto da ocupação colonial e da colonização e à imagem dos museus europeus da época. Foi assim que, principalmente a partir do seculo XVIII, se intensificou o interesse pelo conhecimento da terra e dos homens do território que é hoje o país Moçambique.
Na mesma linhagem, Costa (2013) refere que Museu Nacional de Etnologia, museu regional nasceu no contexto da visita do presidente da República Portuguesa à colónia de Moçambique, pretendeu representar a terra e os homens da região Norte. Poucas vezes foi o resultado de investigação e trabalho de terreno e desse facto se ressentiu, durante muito tempo, a sua exposição e demais funções.
Teóricos da museologia e instituições internacionais ligadas a museu, tal como ICOM e UNESCO, recomendam a pesquisa em museu como actividade primordial e constante dos museus. Como refere Knack (2013), citando Possamai (2002), a pesquisa em museus é uma actividade essencial, constituindo-se como uma das bases da sua existência desde a Antiguidade.
Segundo Ferreira e Leal (s/d), apontam que,
Os Museus são substancialmente instituições de pesquisa. Desde sua origem, passando pela época das colecções principescas e dos resquícios dos gabinetes de curiosidade, eram um veículo de fruição. No entanto, após a revolução francesa veio a preocupação com a instrução e, é essa a concepção mais amplamente defendida que conhecemos a respeito da razão de ser de um museu. Museu é, desde então, um lugar de formação.
Sofika (2009), diz que o pré-requisito lógico que permite aos museus desempenhar seu papel nos dias actuais é a amálgama entre as suas três principais funções, isto é, preservar, pesquisar e difundir conhecimento.
A recomendação referente à Protecção e Promoção dos Museus e Colecções, Sua Diversidade Seu Papel na Sociedade, da UNESCO (2015) advoga que,
Pesquisa, incluindo o estudo das colecções, é outra função primária dos museus. A pesquisa pode ser conduzida por museus em colaboração com outros. Apenas por meio do conhecimento obtido de tais pesquisas, o completo potencial dos museus pode ser alcançado e oferecido ao público. A pesquisa é de extrema importância para os museus para que se ofereçam oportunidades de reflexão sobre a história em um contexto contemporâneo, assim como para a interpretação, representação e apresentação de colecções (UNESCO, 2015).
De acordo com Desvallées e Mairesse (2013), Pesquisa em Museu, são conjuntos de actividades intelectuais e de trabalhos que têm como objecto a descoberta, a invenção e o progresso de conhecimentos novos ligados às colecções das quais ele se encarrega ou às suas actividades.
Na mesma ordem de ideias, Knack (2013) diz que entre as actividades de pesquisa fundamentais de um museu está a investigação minuciosa na aquisição de seu acervo. Esse tipo de pesquisa deve orientar a entrada de outros bens para o acervo.
De acordo com Abreu (2008) citado por Abú (2016), afirma que os museus estudam e valorizam as colecções e expõem-nas com modelos apelativos e educativas, deste modo, renovam as exposições e, por fim atraem cada vez mais visitantes.
O Estado através da Política de Museus prioriza a realização, aprofundamento e actualização permanente dos inventários das colecções dos Museus Nacionais na sua área de especialidade quer sejam bens do património arqueológico, histórico, etnográfico, artístico, geológico ou outros.
E por sua vez o capítulo II do Estatuto Orgânico do Museu de Etnologia (MUSET) no artigo 8, advoga que o Departamento de Investigação promove a pesquisa e a realização de missões de estudo, recolha e trabalhos de campo, junto de quaisquer grupos humanos, étnicos ou sociais no âmbito da área de especialidade do museu, e a elaboração de trabalhos científicos para publicação e edição.
Abú (2016) afirma que percebe-se então, que, passam aproximadamente vinte (20) anos que o Museu Nacional de Etnologia de Nampula existe, entretanto constata-se alguns desafios na renovação das suas colecções e consequentemente as suas exposições.
E na mesma ordem de ideias Costa (2006), aponta que um museu que não mantém actualizadas e em bom estado as informações relativas a seu acervo (colecções), deixa de cumprir uma de suas principais funções, ou talvez a mais importante, que é a preservação de sua memória. Os responsáveis pelos museus têm a obrigação de manter as colecções em boa ordem e transmiti-las a seus sucessores nas melhores condições de registro.
Portanto tendo em conta as abordagens acima referidas, olhando para o caso específico do Museu Nacional de Etnologia de Nampula com base na experiência da visita efectuada ao mesmo, constata-se que há um défice no concernente a esta temática. Assim como refere Rabelo (2015),
O Museu Nacional de Etnologia foi fundado em 1956 por iniciativa do governo colonial português, para servir como primeiro de um conjunto de museus regionais. De natureza exclusivamente etnográfica, o MUSET, ao ser nacionalizado, passou a incorporar a cultura material de povos de outras regiões do país. Após a independência do país, em 1975, Moçambique adoptava o socialismo e entrava em guerra civil. Dentro de pouco tempo, o Museu de Nampula seria fechado para reformulação de seus displays, para ser reaberto, apenas em 1993, após o término da guerra, como Museu Nacional de Etnologia de Nampula. Desde então, suas exposições permanecem as mesmas.
Considerações finais
Como nos referimos anteriormente o presente artigo é resultado da revisão da literatura, parte integrante do meu projecto de pesquisa que os dados ainda não foram recolhido no campo, é prematuro trazer uma abordagem conclusiva, mas tendo em conta as teses trazidas pelos autores, podemos dizer que além dos museus moçambicanos nascerem do contexto colonial à imagem dos museus europeus, devem “despir-se” dela, adoptar uma postura tendo em conta em o contexto em que está inserido.
Por outro lado os museus moçambicanos enfrentam várias dificuldades no seu funcionamento devido a «não cumprimento» na íntegra dos documentos internacionais das instituições que velam sobre os museus tal como o caso do Código Deontológico do ICOM e UNESCO, e tambem enfrenta a falta de recursos humanos qualificados para trabalhar nesta área e fim falta de iniciativas por parte da sociedade civil em contibuir na materia para sua sutentabilidade.
Referências bibliográficas
ABÚ, Suize, L. A. Joaquim (2016) Estratégias do Museu Nacional de Etnologia de Nampula, na Promoção do Espólio Museológico no período de 1996 – 2016. Monografia de licenciatura apresentado no Instituto Superior de Artes e Cultura, Matola.
ANDER-EGG, Ezequiel (1976) Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores sociales, 7. ed. Buenos Aires: Humanitas
COSTA, Evanise Pascoa (2006) Princípios Básicos da Museologia. Coordenação do Sistema Estadual de Museus/ Secretaria de Estado da Cultura, Curitiba.
COSTA, Alda (2013). Museus de Moçambique: na encruzilhada de tempos, tradições e práticas. In: Atas IV Encontro de Museus de Países e Comunidades de Língua Portuguesa. Lisboa: Comissão Nacional Portuguesa do ICOM
DESVALLÉES, André e MAIRESSE, François, (2013) Conceitos-chaves de Museologia. São Paulo.
FERREIRA, Gabriela G. da Rosa & LEAL, Nóris M. P. Martins (s/d) Documentação E Pesquisa Museológica: Coleção Alcir Nei Bach. In Anais da Semana dos Museus da Ufpel.
GIL, António Carlos (1999), Métodos e técnicas de pesquisa social 5 ed. Atlas, São Paulo.
GONÇALVES, José Reginaldo Santos (2007) Antropologia dos objetos: coleções, museus. Editora Garamond Ltda. Rio de Janeiro.
ISSAK, Aíssa (2006) Museus como unidades documentais: seu papel na educação da comunidade, in 3˚ Seminário Regional de Arquivos, Bibliotecas, Centro de Documentação e Museus, Xai- Xai – 18 a 27 de Outubro de 2006.
KNACK, Eduardo R. Jordão (2013) História, Ensino e Pesquisa em Museus: Uma Experiência no Museu Histórico Regional (MHR), Aedos no 12 vol. 5 – Jan/Jul. 2013 Brasil.
MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria (2002), Técnicas de pesquisa: planeamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, analise e interpretação de dados. 5 ed. Atlas, São Paulo.
Ministério de Educação e Cultura (2007) Colectânea da Legislação Cultural de Moçambique, 1ª Edição, Maputo
RABELO, A. C. (2015) Makumbusho ni nyumbani? (Museu é lar?) Coleções etnográficas e identidades em museus nacionais da Tanzania, Kenya e Moçambique. Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. PPGA-MN/UFRJ.
SOFIKA, Vinos (2009) Museologia, vol. II no 1 – Jan/Jun. de 2009 Disponível em: http://www. revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus.
UNESCO (2015), Recomendação Referente à Proteção e Promoção dos Museus e Coleções, sua Diversidade e seu Papel na Sociedade, Paris.
Comenta com teu facebook