Quase um mês de impunidade depois da queixa feita na Esquadra. Foi provada a violação no hospital. Vítima queixa-se de ameaças
É mais um triste caso de violação sexual envolvendo pessoas que tinham a tarefa de garantir a segurança. O casou aconteceu no passado dia 16 de Janeiro do corrente ano no bairro Liberdade-03, fonte azul, na Cidade de Inhambane. Passado quase um mês depois do incidente, a vítima de 21 anos de idade clama ainda por justiça e narra situações de ameaças protagonizadas pelos seus três violadores, identificados pela mesma como agentes dos Serviços Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) em número de dois, e um da Polícia da República de Moçambique (PRM).
Segundo contou a vítima ao 4Vês Repórter, tudo aconteceu numa residência de um dos amigos dos agentes do SERNIC e da PRM. Mas muito antes, esta conta que esteve numa festa a convite destes no passado sábado dia 15. E por os conhecer e serem amigos, confiou nos mesmos também devido aos cargos que este ocupam na sociedade como zeladores da ordem e tranquilidade pública. Sem saber que os mesmos seriam os seus violadores naquele dia.
Já no dia seguinte, no domingo, dia 16, a vítima conta que foi a uma festa essa que aconteceu na casa de um dos amigos dos agentes. Foi nesta festa onde a mesma foi violada sexualmente por três agentes.
“No dia 15 de mês passado estivemos numa festa e na mesma bebi com eles, e pela confiança que tinha com eles, tendo em conta que são meus vizinhos e pelos cargos que carregam no serviço, eu confiei neles. E na festa de domingo não aceitei beber porque no dia seguinte eu tinha que ir trabalhar”, disse a vítima.
A vítima pela confiança que tem com os seus amigos, um destes pediu que ela fosse a um quarto naquela residências onde acontecia a festa para guardar os óculos dele porque estava quase embriagado e tinha receio de os partir. Esta aceitou o pedido e foi ao quarto deixar os óculos. Enquanto isso, os três amigos já haviam orquestrado o plano para a violar.
Já no quarto, a vítima conta que foi seguida pelo dono dos óculos e seus dois amigos. E minutos depois esta foi violada sexualmente pelos mesmos, e foi deixada quando a mesma começou a sagrar. O que pode-se perceber que o pedido para guardar os óculos era uma estratégia para a levar ao quarto onde estes pudessem realizar seus desejos obscuros.
“Entrei no tal quarto para guardar os óculos. E depois ele entra e pergunta onde eu deixei os óculos, e quando eu estava prestes a lhe mostrar onde estavam os óculos, ele empurra-me para acama. Ao cair na cama, ele subiu me e sentou em cima da minha barriga. E o outro amigo entrou logo no quarto, enquanto um estava na minha barriga o outro violou-me sexualmente”, conta a vítima.
A mesma afirma que no momento da violação o proprietário da casa não estava porque acabava se sair na sua viatura. Entretanto, nos três amigos apenas dois estiveram envolvidos no acto sexual forçado e um participou como assistente. Este apenas viu os dois a violentar a jovem e nada fez. Ainda mais, uma outra jovem que esteve na festa também teria presenciado a situação e saiu aos gritos mas não foi levada em conta.
“O dono da casa não estava, mas um dos amigos estava. Este quase participou, mas não participou porque a namorada veio lhe chamar. Mas ele me viu em apuros. Eles colocaram me lençol na boca e usaram a mãos para tampar me a boca. E devido ao volume alto da música ninguém ouviu quando tentei gritar. E uma moça viu aquilo quando abriu a porta, e gritou e achar que fosse uma brincadeira dela, ninguém reagiu”, relata a vítima.
Quando o proprietário da casa voltou, a vítima contou sobre a violação sexual que havia acontecido. Esta conta que depois de contar foi expulsa da casa pelo proprietário. A mesma diz que já estava com fortes dores, e questionou os porquês de ser expulsa além de se resolver o problema que aconteceu naquela residência.
“Quando voltou o proprietário, eu toda machada de sangue e aos choros contei o que aconteceu. Ele desligou a música e me mandou embora. Eu disse que me mandar embora não é a solução, porque eu não estava bem, estava com dores e a sagrar. Foi quando saímos dali e eles disseram que o assunto deveria morrer ali e que ninguém deveria saber. Eu a gerir aquele estresse não disse nada e voltei a casa, tomei banho e dormi”, disse a fonte.
O 4Vês Repórter soube que no dia seguinte os violadores ligaram para a vítima para saber como ela estava se sentindo. Importa destacar que a mesma foi ao serviço sem contar nada a família sobre a violação. Na chamada de segunda-feira, a vítima disse que disse aos violadores que não estava a sentir-se bem e queria ir ao hospital. E por sua vez, os violadores a disseram para não ir, amedrontando-a.
“Eu lhes disse que estava péssima e que queria ir ao hospital. Eles disseram que não deveria ir ao hospital porque eu teria problemas e que mesmo eu seria presa, um monte de coisas. Eu perguntei como seria resolvido o assunto, e afirmaram que falaram com um médico que iria dar me medicação. Eu exigi que deveria ser observada por um médico porque não estava bem, disseram para estar a tomar a medicação e que iria melhorar, e não aceitei” narrou a vítima.
Vítima apresentou queixa e nunca foi chamada para qualquer tentativa de esclarecimento
Já na terça-feira, 18 de Janeiro, a vítima foi primeiro a esquadra para meter a queixa. Na esquadra esta narra situações de mau atendimento onde chegou a ser respondida com grosseria pelo agente em serviço. Conta a mesma que primeiro lhe recusaram dar um guia para o hospital, justificando que deveria ter ido queixar ainda no domingo e que na terça-feira já não seria provada a violação se aconteceu ou não. Esta insistiu que poderia provar porque também tinha roupas manchadas de sangue, e só depois de tanto chorar e que lhe foi dada a guia para tal.
“Então fui ao hospital, fizeram me as analises e comprovaram que houve sim violação. E ao sair do hospital só assustei-me ao encontrar eles na saída do hospital. Estavam numa viatura Mahindra da Polícia, e me mandaram entrar no carro. E perguntei porque deveria entrar no carro, e disseram era para me levar para casa porque sabiam que eu estava aqui. Começaram a perguntar sobre eu ter passado da esquadra, percebi que logo que falei dos nomes na esquadra, ligaram para eles”, disse.
A vítima aceitou entrar no carro com os agentes e foi deixa no bairro. Os agentes violadores falaram para a vítima que deviriam ir a casa onde aconteceu o acto de violação para levar as restantes roupas que haviam ficado. Na tal casa, os agentes tiram um valor de 4 mil meticais e entregaram a vítima para cuidados médicos.
“Disseram que o valor iria ajudar na medicação porque eu não estava bem. Primeiramente neguem o dinheiro, e liguei para um policia disse deveria levar e que serviria também de prova de tentativa de suborno. E recebi o valor e fui para casa”, contou.
O 4Vês Repórter ficou a saber ainda que, depois de receber o valor, a vítima começou a receber ameaças sobre porquê de ter ido queixar na esquadra. Os violadores disseram para a vítima que o processo não seria valido se continuasse porque ela receber o valor de 4 mil e que iria perder emprego.
“Eles começaram a me ameaçar, que eu fui para esquadra abrir processo mas que não será valido porque recebi o valor. E disseram que eu sabia que com os cargos que eles tem poderiam fazer-me perder emprego. Faziam mensagens e chamadas assim sempre, e fiquei com medo não fiz mais nada”, disse a fonte.
Com o caso já a completar um mês, a vítima decidiu abrir-se e buscar a responsabilização dos agentes violadores. Entretanto, a vítima nunca foi convocada pela polícia para mais detalhes sobre o assunto desde o dia que foi submeter a queixa. A mesma não conhece concretamente o nome e o cargo do agente da PRM, mais sabe que é chamado por “Obadias” e que ocupa um cargo de revelo no seu trabalho, e os restantes dois são agentes afectos ao SERNIC.
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