Ontem, nas minhas andanças pela zona centro da nossa pátria bela dos que ousaram lutar, depois que eu deixara a Cidade de Tete no dia anterior, saí de Ulónguè para Macanga na tentativa de conhecer mais esta zona montanhosa.
Para a minha efémera surpresa naquele momento, ao chegar a Dómuè, notei que pouco se usava o metical e o KWACHA ganhava mais espaço como se de Malawianos nos tratássemos.
Contudo, ignorei logo o facto, afinal, nesta pátria amada, usamos muitas outras moedas exógenas como o Rand, Dólar e mais.
A surpresa não me foi tão efémera quanto parecia, pois chegados a “Chipende” parámos para tomar refeições. Eram 17h e aquilo que parecia almoço acabou tranformando-se em jantar.
Foi-me humildemente dito que cada prato custava 180 meticais pelo cardápio bucal de uma senhora muito educada que pouco dominava a língua de Camões, mas que se revelara grande empreendedora. Em prontidão, tirei uma nota de 200 meticais e entreguei-lhe.
O que outrora parecia uma surpresa efémera tornou-se perdurável, porque, para o meu espanto, foi-me dado trocos de 300 KWACHA. Falando aos meus botões perguentei-me: “como pago em metical e me dão trocos em KWACHA? Mas, tudo isso, 300, é sério?” Os meus dois espíritos entraram em conflito, do tipo, quando te dão trocos a mais um diz para devolver e o outro não. Trocos a mais, é o que me pareceu naquele momento.
O bom espírito venceu o mau, e na tentativa de mostrar a minha pseudo-bondade disse numa voz socializada à vendedora e consequentemente aos demais presentes: “senhora, senhora, senhora”.
Três vezes porque demorou responder.
“Deste-me trocos a mais, são aqui 300 KWACHA enquanto eu te dei 200 meticais”.
Todos que estavam aí, que pareciam prestar atenção em mim pelo meu sotaque e pelo facto de não entender a língua local “Chewe”, em uníssono foram unânimes em me dizer que esse dinheiro equivale a 20 meticais. Sim, 20 meticais.
Eu, cabisbaixo e boquiaberto, imerso na vergonha e alheio a tudo quanto me rodeava, disse: “muito obrigado”.
Mostrando um sorriso tão falso quanto a inocência de Guebuza e Nyusi nas dívidas ocultas.
Para o meu desespero, da situação de um canto de Moçambique em que só, ou melhor, maioritariamente, se usa KWACHA para outro nas proximidades que não se usa, cheguei à Macanga com os meus 300 KWACHA. Queria comprar algo de 20 meticais usando os 300, um jovem com um olhar de pena e preocupação porque viu o meu passaporte de longe, o meu único documento activo, e pensou que eu fosse estrangeiro e só tivesse aquela moeda disse-me: “este dinheiro não se aceita aqui”.
Sim, pessoal, a diferença dos locais é de apenas um pouco menos de 50KM. Assim estou a voltar para Maputo com os meus 300 KWACHA, aliás, os meus inúteis 300 KWACHA que nunca mais vou usá-los.
In: O prelúdio: FACTOS, por Gildo L. L. Mapute.
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