Cerca de nove em cada dez pessoas no mundo têm algum tipo de preconceito contra as mulheres. A conclusão é do último relatório do Índice de Normas Sociais de Género (GSNI, em Inglês), produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Analisando dados de 75 países, que somam mais de 80% da população mundial, a pesquisa aponta que (i) quase metade dos entrevistados afirma acreditar que os homens são melhores líderes políticos, (ii) mais de 40% defendem que os homens são melhores executivos e devem ter acesso a mais empregos quando a economia está em crise e (iii) 25% das pessoas acreditam que se justifica que um homem bata na sua mulher. Os resultados reflectem os dados mais recentes do Inquérito sobre os Valores Mundiais.
O relatório argumenta que estes preconceitos são o motor dos obstáculos enfrentados pelas mulheres, que se manifestam na deterioração dos direitos das mulheres em muitas partes do mundo, com movimentos contra a igualdade de género a ganharem força e, em alguns países, um aumento das violações dos direitos humanos. Os preconceitos também se reflectem na grave sub-representação das mulheres nas posições de liderança. Em média, a percentagem de mulheres como chefes de Estado ou de Governo tem-se mantido em cerca de 10% desde 1995 e, no mercado de trabalho, as mulheres ocupam menos de um terço dos cargos de direcção.
Segundo a pesquisa, há um desfasamento entre os progressos das mulheres em matéria de educação e o seu empoderamento económico. As mulheres são mais qualificadas e instruídas do que nunca, mas mesmo nos 59 países onde as mulheres têm actualmente mais habilitações do que os homens, a diferença média de rendimentos entre os sexos continua a ser de 39% a favor dos homens.
“As normas sociais que prejudicam os direitos das mulheres são também prejudiciais para a sociedade em geral, travando a expansão do desenvolvimento humano. De facto, a falta de progressos em matéria de normas sociais de género está a desenrolar-se no contexto de uma crise de desenvolvimento humano: o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) global diminuiu em 2020, pela primeira vez desde que há registo, e novamente no ano seguinte. Todos têm a ganhar com a garantia da liberdade e da acção das mulheres”, afirmou Pedro Conceição, chefe do Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD.
Governos com papel crucial na mudança das normas sociais de género
O relatório sublinha que os Governos têm um papel crucial na mudança das normas sociais de género. Por exemplo, as políticas de licença parental alteraram as percepções sobre as responsabilidades do trabalho de prestação de cuidados e as reformas do mercado de trabalho conduziram a uma mudança nas crenças sobre o emprego das mulheres.
“Um ponto de partida importante é o reconhecimento do valor económico do trabalho de assistência não remunerado. Esta pode ser uma forma muito eficaz de desafiar as normas de género em relação à forma como o trabalho de assistência é visto. Nos países com os níveis mais elevados de preconceitos de género contra as mulheres, estima-se que as mulheres gastam mais de seis vezes mais tempo do que os homens em trabalho de cuidados não remunerado”, afirmou Raquel Lagunas, Directora da Equipa de Género do PNUD.
A mudança é possível
O relatório sublinha que, apesar da prevalência contínua de preconceitos contra as mulheres, os dados mostram que a mudança é possível. Em 27 dos 38 países inquiridos, foi evidente um aumento da percentagem de pessoas sem preconceitos em qualquer indicador. Os autores do relatório sublinham que, para impulsionar a mudança no sentido de uma maior igualdade de género, é necessário concentrar-se na expansão do desenvolvimento humano através do investimento, da segurança e da inovação.
Isto inclui investir em leis e medidas políticas que promovam a igualdade das mulheres na participação política, aumentar os mecanismos de seguro, como o reforço da protecção social e dos sistemas de cuidados, e incentivar intervenções inovadoras que possam ser particularmente eficazes para desafiar normas sociais prejudiciais, atitudes patriarcais e estereótipos de género. Por exemplo, o combate ao discurso de ódio e à desinformação sobre o género pode ajudar a mudar as normas de género generalizadas, no sentido de uma maior aceitação e igualdade.
Além disso, o relatório recomenda a abordagem direta das normas sociais através da educação para mudar as opiniões das pessoas, políticas e alterações legais que reconheçam os direitos das mulheres em todas as esferas da vida e uma maior representação das mulheres nos processos políticos e de tomada de decisão.
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